O conceito de Agricultura Vegana ou Plant-Based Agriculture é novo e ainda não existem definições sistematizadas a respeito, mas considera-se que é o sistema de cultivo que busca eliminar o uso de insumos animais e químicos e também o de inseticidas para controle de insetos indesejados. O objetivo é realizar o controle preventivo para que o sistema consiga se proteger naturalmente ou se necessário se faça uso de práticas agroecológicas que não causem danos aos animais.
Nesse caminho se faz necessário entendermos um pouco mais sobre os processos agrícolas, como as técnicas de controle, o uso de insumos e até o que estamos produzindo. Inicialmente devemos entender que para praticarmos uma Agricultura Vegana não precisamos necessariamente “inventar a roda”, ou boa parte dela, pois as diversas vertentes e modelos existentes já criaram, testaram e documentaram muitas técnicas que estão de acordo com o veganismo, então o que precisamos fazer é sistematizar, organizar e divulgar esse conhecimento para que veganos ou simpatizantes possam aplicá-lo.
Na questão da utilização de insumos fertilizantes, ou comumente chamados de adubos, devemos entender que o objetivo principal é que o sistema de plantio não necessite de aporte externo, ou seja, que a forma de cultivar produza os próprios nutrientes para manter o solo saudável e produtivo. Essa concepção é encontrada em algumas vertentes da agroecologia e como exemplo podemos citar a Agricultura Sintrópica do Ernst Gotsch. Na prática, se há uma necessidade rápida de iniciar a produção, se faz um aporte inicial de insumos e depois o próprio sistema fornece os nutrientes para o solo.
Seguindo ainda na linha da fertilização, há de se observar que na Agricultura Vegana somente devemos fazer uso de insumos vegetais e organominerais. Estercos de animais, farinhas de osso, sangue e tantos outros que se originam da cadeia de produção da pecuária devem ser abolidos. No nosso entendimento essa escolha se baseia em duas questões: primeiro no uso do animal como fonte de insumo, o que já vai contra a filosofia vegana, mesmo que sejam apenas rejeitos. Segundo ponto é que o rejeito de animais é um problema para os produtores de carne, eles precisam fazer o descarte desse material e uma das formas encontradas é transformar isso num produto e vendê-lo para fertilização agrícola. Não podemos colaborar com esse processo.
Na questão de controle de plantas e insetos não desejáveis, comumente chamados de “pragas”, temos um dos maiores problemas da agricultura, é aqui que ocorre o grande massacre da biodiversidade provocado pela “insumização química” dos produtores convencionais, aqueles que usam veneno para matar plantas e bichos. Nas abordagens agroecológicas há a concepção de que um sistema saudável sofrerá menos ataques do que um sistema degradado, e um sistema saudável é composto por uma diversidade de plantas, aporte de material orgânico na cobertura do solo e se há necessidade de insumos estes deverão ser orgânicos e de fontes sustentáveis.
Na linha do controle de insetos não desejáveis uma parte dos modelos agroecológicos ainda fazem o uso de inseticidas orgânicos ou controles biológicos para eliminá-los, aí entra um dos gargalos da Agricultura Orgânica, como controlá-los sem fazer uso de venenos e controles orgânicos e biológicos? Entre as respostas podemos destacar que manter o sistema equilibrado e saudável é uma das mais recorrentes, mas na prática isso nem sempre é possível, seja porque está no estágio inicial ou porque há alguma outra limitação para isso. Outra resposta é fazer uso de métodos repelentes, seja por cores, cheiros, formas, espantalhos e tantos outros já testados.
Para finalizar há de se enfatizar que a Agricultura Vegana deve ser sempre agroecológica e estar alinhada ao veganismo popular, além disso deve trazer para o debate outros temas pertinentes como uma reforma agrária abrangente e popular, a defesa dos territórios indígenas, quilombolas e outros de resistência e por fim questionar também o modelo capitalista que mantém e dá base para o agronegócio.